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Valuation
Equipe Universidade da Bolsa Atualizado em 19/03/2025
Valuation é uma metodologia utilizada para avaliar qual o valor de um ativo, como uma empresa ou uma ação. Esta ferramenta é utilizada por todos os profissionais que trabalham no mercado financeiro.
Entre outras coisas, o valuation avalia o valor de mercado de uma empresa, o risco do negócio, o retorno de um investimento, o valor justo para se pagar a um determinado ativo, entre outros fatores.
Podemos ver que o valuation é muito importante para avaliar se vale realmente comprar uma determinada ação. É primordial que qualquer investidor utilize esse método para saber se a empresa vale a pena ser comprada no momento atual. É preciso lembrar que o investidor pode comprar boas empresas, mas ele precisa saber se está pagando caro naquela empresa. Um bom profissional compra boas empresas a bons valores, e de preferência descontada.
Além disso, existem também diferentes tipos de valuations, ou seja, temos diversos métodos para estimar o valor intrínseco de uma empresa. Cada método tem suas premissas e aplicações, dependendo do contexto e do objetivo da análise. Segue abaixo os principais tipos:
- Fluxo de caixa descontado (FCD): é um dos métodos mais utilizados no valuation, envolve a projeção dos fluxos de caixa futuros esperados da empresa e aplica-se uma taxa de desconto, que geralmente é baseada no custo de capital da empresa. Assim, é possível trazer esses fluxos de caixa para o valor presente.
Este é considerado um método robusto e bastante preciso para estimar o valor de uma empresa, principalmente quando se trata de empresas que geram fluxos de caixa consistentes ao longo dos anos.
- Múltiplos de mercado: é o método mais utilizado pelos profissionais, pois envolve a comparação da empresa com os concorrentes ou companhias semelhantes que já são listadas na Bolsa de Valores. Entre essas métricas incluem o P/L (Preço sobre Lucro), P/V (Preço sobre Venda), P/VP (Preço sobre Valor Patrimonial), EV/Ebitda (Valor da Firma sobre Ebitda) entre diversos outros.
Os múltiplos são bastante utilizados para estimar o valor da empresa com base nas avaliações de mercado de empresas comparáveis.
Os múltiplos são facilmente encontrados em diversos site como statusinvest, fornecendo os dados já atualizados conforme os últimos relatórios demonstrativos das empresas.
- Contábil: é um método bastante conhecido em que se baseia no valor contábil dos ativos e passivos da empresa, conforme mostram os demonstrativos financeiros. Embora a abordagem seja simples, ela não reflete o valor de mercado da empresa, pois muitos ativos podem estar subvalorizados ou não refletir um potencial real.
- Valuation de liquidação: método utilizado para determinar o valor de uma empresa caso ela fosse liquidada, ou seja, caso todos seus ativos fossem vendidos e todos os passivos fossem pagos. Isso é útil em caso de falência ou reestruturação financeira, quando se deseja determinar o valor residual para os acionistas.
- Valuation pré-investimento: método de valuation utilizado para determinar o valor de uma empresa em estágios iniciais, como uma startup. Esse valuation ajuda a estabelecer uma primeira base para negociações com investidores em potencial.
- Valuation pós-investimento: método utilizado para avaliar o valor de uma empresa após ocorrer a injeção de capital na empresa. Este método pode ser utilizado para determinar a participação acionária dos investidores.
Como podemos perceber existem vários métodos, mas todos são utilizados para determinar o valor de uma empresa. Isso ajuda o investidor a saber se o valor atual de uma ação é cara ou barata para aquela empresa. Com isso, o investidor pode investir com uma maior segurança, sabendo que não está pagando muito mais pelo negócio. Utilizar o método de valuation também ajuda a descobrir empresas que estão baratas e, com isso, podemos aproveitar oportunidades que mercado oferece.
Cada método tem vantagens e limitações, sendo que a escolha depende mais das circunstâncias e também dos dados disponíveis para realizar a análise. Geralmente, os profissionais do mercado costumam combinar um ou dois métodos para obter uma visão mais completa do valor da empresa.
Todos os dados necessários são retirados do demonstrativo financeiro que as empresas disponibilizam nos seus sites. Esses relatórios são lançados todos os trimestres, sendo assim 4 demonstrativos por ano, ou seja, a cada 4 meses.
Na prática, vários métodos já foram criados e são utilizados por todos os grandes profissionais. Falaremos de três mais utilizados, são eles:
Método de Gordon
Sabe-se que quando existe uma sociedade, como as empresas listadas em Bolsa, o retorno é pago através dos dividendos. Assim, o Método de Gordon é aplicado para saber o valor da empresa com base nas estimativas de crescimento dos dividendos.
O valuation de uma empresa feito por esse método utiliza a seguinte fórmula:
Preço = Dividendos por ação / (K – G).
Sendo que o "Dividendo por ação" é o valor do dividendo por ação estimado para os próximos 12 meses, "K" é a taxa de desconto a ser esperada por ação por parte de cada investidor, e "G" é a taxa contínua de crescimento dos dividendos, ou seja, sem prazo fixo.
Esses valores podem ser trabalhados pelo investidor através de uma abordagem mais otimista ou mais pessimista. A estimativa pessimista tende a fornecer dados mais interessante quanto ao preço, pois possibilidade uma certa margem de segurança pelo investidor.
Método de Benjamin Graham
Graham é um dos maiores autores do mercado financeiro, além de ser um dos professores do maior investidor do mundo, Warren Buffett.
O autor apresentou no seu livro "O Investidor Inteligente" como é possível calcular o valor intrínseco de uma ação. O valor intrínseco é uma estimativa do verdadeiro valor de uma ação com base em uma Análise Fundamentalista. Em essência, é o que um investidor considera que uma ação “vale” com base em uma avaliação profunda e criteriosa. Este estudo leva em consideração vários fatores como o desempenho financeiro da empresa, perspectiva de crescimento, saúde do setor, concorrência e muito mais. Tudo isso é materializado em uma fórmula criada pelo autor. No entanto, a fórmula permite algumas configurações conforme o analista achar necessário, mesmo que Graham tenha dado números para essas configurações. Porém, como Graham criou a fórmula em mais de 20 anos, é possível que o mercado tenha se adaptado a algumas alterações. Por isso, Graham utilizada um número baixo para configurar a fórmula, hoje com o crescimento das empresas através de fusões, além de uma maior globalização, este número tende a ser um pouco maior.
Este valor intrínseco determinado por Graham nada mais é do que o preço justo da ação. Segundo o autor, o preço tende a ficar mais próximo do seu valor intrínseco ao longo do tempo, mesmo que no curto prazo o valor possa crescer muito devido a alguma notícia ou algum fator externo, ou até mesmo cair muito pelos mesmos fatores. Era nesse momento de queda dos preços de Graham mais se aproveitava para comprar empresas baratas.
Assim, Graham definiu mais um conceito para ser extraído da sua fórmula, a margem de segurança. Quando uma ação está muito abaixo do seu valor intrínseco, temos uma margem de segurança, ou seja, a empresa está sendo negociada abaixo do valor que ela realmente vale. Isso possibilita que o investidor compre a empresa por um valor mais barato.
Dessa forma, a fórmula inclui vários fatores, como o lucro por ação, a taxa de crescimento dos lucros e as taxas de juros de longo prazo. Para calculá-la, utiliza-se a seguinte equação matemática:
√ (22,5 x LPA x VPA)
Sendo que o LPA é o lucro por ação, ou seja, lucro líquido da empresa dividido pelo número de ações que ela possui. Já o VPA é o valor patrimonial por ação, ou seja, o patrimônio líquido dividido pelo total de ações.
Veja que o valor 22,5 é o valor dado por Graham, mas ele é calculado pelo P/L (preço da ação sobre o lucro da empresa) multiplicado pelo VPA (valor por ação). Ele sugere que o P/L deveria ser de no máximo 15, e o VPA de 1,5. Como dissemos anteriormente, as empresas trabalham atualmente com múltiplos P/L maiores. Por isso, atualmente pode-se considerar um P/L de 25.
Simplificando essa configuração, Graham entendia que o investidor inteligente não deveria pagar mais do que um P/L de 15 e um VPA de 1,5. Caso os múltiplos fossem maiores, não era interessante nem mesmo avaliar o valor intrínseco da empresa. Caso a empresa esteja dentro desses múltiplos, calcula-se o seu valor intrínseco e obtém a margem de segurança para comprá-la ou não.
Método de Décio Bazin
Décio Bazin foi um grande investidor e escritor brasileiro que desenvolveu um método inovador para avaliar ações e investir no mercado financeiro. Ele escreveu o famoso livro "Faça Fortuna com Ações" em 1992, obra que é considerada leitura obrigatória. Seu método é utilizado por profissionais que buscam melhores retornos. O autor sempre enfatizava que deveríamos buscar empresas de qualidade e suas perspectivas de crescimento pensando no longo prazo.
Assim, Bazin enfatizava a importância dos dividendos, que foi o que levou ele a desenvolver a sua própria fórmula para determinar o preço justo das ações com base nos dividendos pagos. Devido a sua abordagem ser focada em valor, seu método é frequentemente comparado à abordagem de investimento de Warren Buffett.
Dessa forma, o método Bazin é baseado no preço justo das ações, mas que leva em conta os dividendos pagos pela empresa. Bazin acreditava que os dividendos eram um indicador confiável para saber como estava a saúde financeira da empresa e do seu potencial de crescimento. Assim, seu método tem como principal objetivo buscar empresas que paguem bons dividendos e que estejam sendo negociadas por um preço inferior ao seu valor justo. Isso permite ao investidor retornos atraente a longo prazo e com riscos minimizados.
No entanto, Bazin tinha alguns mandamentos que o investidor deveria seguir ao selecionar suas ações, são eles:
- Liquidez: Bazin recomenda que os investidores escolham ações com boa liquidez, ou seja, uma boa quantidade de negociações diárias. Isso deixa algumas empresas menores de fora da lista, mas garante que o investidor consiga sair rapidamente da ação quando necessário ou que evite mudanças muito bruscas no seu preço. Isso porque como a empresa possui baixa liquidez, um investidor com bastante dinheiro consegue mexer bastante no preço da ação.
- Dividend Yield Dolarizado: outra recomendação é que o investidor deve selecionar uma ação boa pagadora de dividendos, ou seja, a empresa deve ter um fluxo constante de pagamentos de dividendos. Isso elimina aquelas ações que pagam dividendos raramente mas numa grande quantidade de uma vez só, o que pode iludir o investidor que ela sempre paga aquela quantidade grande de dividendos.
Para ser mais objetivo, Bazin verificava se a empresa pagava pelo menos 6% ao ano nos últimos três pagamentos de dividendos. Porém, ele dolarizava esse dividendo. Assim, para chegar no valor o investidor deve pegar o último provento pago e o valor da ação nessa data e converter para o dólar do dia. Ao encontrar os dois valores, basta dividir o dividendo pago pelo valor da ação.
A escolha do dividend yield de 6% foi baseada na ideia de que esse valor proporciona um retorno significativo aos investidores, em comparação às taxas de juros da época.
- Notícias: este é um fator mais qualitativo do método de Bazin. Ele acreditava que quando uma notícia ruim da empresa surgisse, o investidor deveria ligar o alerta máximo. Mas Bazin era bem radical neste ponto, ele sugere que quando uma notícia ruim viesse à mídia, a ação deveria ser vendida imediatamente, independente se fosse um boato ou não. Ele acreditava que não tem como prever como essas notícias podem afetar o desempenho da empresa, tanto no curto quanto no longo prazo.
- Endividamento: este era um dos fatores mais importantes que Bazin acompanhava nas empresas. Ele sugere que os investidores sempre acompanhem a situação de endividamento da empresa, e caso piorasse, o investidor deveria sair imediatamente da empresa. Isso se deve também porque os juros oscilam bastante no país, e uma alta poderia realmente colocar a empresa em sérios problemas.
- Rebalanceamento: Bazin considera que o investidor deve rebalancear sua carteira a cada semestre. Assim, finalizado o semestre, o investidor deve aplicar os filtros acima e avaliar quem deve sair da carteira. Assim, se a empresa passa dois semestres seguidos com o dividend yield abaixo dos 6% ao ano, por exemplo, ela deve ser retirada da carteira através da venda. Ele ainda sugere que Abril e Outubro são os melhores meses para fazer esse rebalanceamento na carteira pois a maioria das empresas já encerrou o pagamento dos dividendos dos semestres.
- Indicador Extra: Bazin ainda utilizava outro indicador que é o Payout da empresa. O payout representa quantos por cento do lucro a empresa distribui em dividendos. Por exemplo, uma empresa com 10% de payout distribui 10% do seu lucro em dividendos. Segundo Bazin, ele gostava de empresas que tivessem no mínimo 50% de payout, pois era uma distribuição razoável dos lucros aos acionistas, mas ainda sobraria um valor considerável para a empresa reinvestir no próprio negócio.
Obviamente que esses 5 mandamentos do Bazin podem ser alterados de investidor para investidor. Existem investidores que preferem correr mais riscos, outros preferem ser mais conservadores. Portanto, definir limites para cada um dos mandamentos depende do investidor.
Agora que já entendemos mais sobre o método do Bazin, podemos calcular o preço justo de uma ação através do seu método, que é simples e direto. Para isso devemos encontrar o dividend yield desejado, que consideramos mais atraente. Segundo Bazin, um número interessante seria de 6% no mínimo. Depois, podemos calcular o preço justo conforme abaixo:
Dividendo Atual / Dividendo Desejado
O resultado do cálculo representa o preço justo da ação. Por exemplo, suponhamos que o investidor considere um dividendo desejável de 6% e a empresa que ele está analisando paga um dividendo anual de R$3,00 por ação anualmente. Nesse caso, dividimos R$3,00 por 0,06 (6%). O resultado é R$50,00. Assim, o preço justo dessa ação é R$50,00. Agora basta pegar o preço atual da ação na Bolsa de Valores, sendo que qualquer valor igual ou abaixo deste, é um valor interessante de compra.
Obviamente que o Método Bazin é mais uma forma de avaliar as empresas, é sempre importante verificarmos outros indicadores e outros métodos juntos. O Método Bazin tem um foco grande nos dividendos, o que pode deixar de fora boas empresas que reinvestem todo capital na própria empresa, o que garante um crescimento no valor da ação. Outra situação a ser pensada é que o desempenho passado não garante o futuro, pois o Método Bazin leva em conta o histórico de pagamento de dividendos, mas isso não garante que a empresa pagará para sempre. Mudanças de gestão ou do mercado podem afetar os futuros pagamentos. Apesar do Método Bazin focar bastante em critério quantitativos, como dividendo atual e o payout, é preciso analisar também como está a governança da empresa, se está entregando crescimento, entre outros fatores mais qualitativos. Além disso, existem setores que não pagam dividendos, pois preferem investir mais no negócio, como os setores de tecnologia. O Método Bazin não é o mais apropriado para este setor.
No entanto, o Método Bazin pode ser uma excelente abordagem para quem busca construir um portfólio sólido e gerar renda passiva através dos dividendos. Com ele podemos criar um portfólio bastante conservador e eficaz.


